
A força, a violência da escrita, a desordem emocional, o desmascarar das memórias da Idade Média, assalta-nos constantemente e violentamente a mente.
A ausência de maiúsculas, a utilização do discurso indirecto livre, o uso na perfeição da imagem, o uso de metáforas bem como hipérbato, tornam a escrita do Valter Hugo mãe diferente, mas nada é feito ao acaso, tudo tem o seu objectivo. Parece que nada neste livro foi deixado à sorte, os nomes foram escolhidos com um rigor excepcional. Baltazar era o chefe de família, o governador. Brunilde está relacionado com as belas raparigas montadas a cavalo em busca do seu guerreiro. Dom Afonso e Dona Catarina não têm significado próprio mas sabemos que foram grandes pessoas na nossa cultura. Cada nome tem por trás as vivências e o papel de cada personagem.
A ausência de maiúsculas, é o sinal de que a escrita corre por si, a leitura quer-se simples e corrente. O uso do discurso indirecto livre leva-nos a termos diferentes formas de interpretação.
O autor usa uma linguagem inovadora e com o sentido profundo da alma do povo. O enredo da história situa-se na Idade Média, um tempo de pobreza, um tempo em que as desigualdades sociais se fazem ressentir. Retrata uma idade média fortíssima mas miserável. Intriga. Fortíssima pelo facto da luta pela imposição do Homem.
Conhecemos Baltazar Serapião, o protagonista deste ''romance'', e a Ermesinda. Habitam um espaço e percorrem um tempo em que a vaca, a sarga, consegue ter os mesmos direitos e deveres que a mulher. São julgados filhos do sarga, filhos de Deus, enfim, filhos da loucura.
Ao longo do livro cruzamos-nos com senhores feudais, observamos ambientes hostis, de luta contínuas pela sobrevivência, captamos imagens de violências asquerosas, da percepção da violência doméstica naquele tempo, tirando-lhe o poder divino de ser mulher. Assistimos a casamentos feitos e desfeitos, a ódios e amores, remorsos e rancores.
A mulher recebe no corpo e na alma a consequência da violência. O senhor é dono da vida assim como a mulher é propriedade do Homem. A violência sobre a mulher advém da força duma revoltante miséria onde a ignorância do tempo é sobreposta a estratos sociais. A mulher acaba por ser a grande vítima.
Um livro revoltante, revolucionário, bruto. REAL. Revira os sentidos ao contrário. Foge ao normal, ao típico, foge a fase de enquadramento actual.
Não não é um livro da idade média, não não é um romance, não não é uma bela história, mas sim é um livro que desmascara os monstros actuais!
Não não é um livro da idade média, não não é um romance, não não é uma bela história, mas sim é um livro que desmascara os monstros actuais!
O facto de matar a mulher é algo divino, é algo que se rotula por orgulho. Onde uma vaca pode ser sagrada e amada, enquanto uma mulher é desprezada e desfalecida.
Foi um livro que me fez viajar à Idade Média. Um livro real que revirou os meus sentidos e cada vez que ia avançando na história ia-me ligando cada vez mais a ele.
(Clicar na imagem)

reler com atenção...
ResponderEliminar"Hierarquizando numa tábua de valores uma vaca em cima da mulher! "
tábua = escala
em cima = acima
e não só... reler com calma para que as afirmações e opiniões alcancem sentido e clareza.
Mas já está muito bom!
Fortíssima pelo facto da luta pela imposição do Homem.
ResponderEliminarTalvez homem com letra minúscula...