domingo, 13 de junho de 2010

A poesia não se explica.




Desde já, digo que a poesia é uma forma de arte, é a arte de escrever, são emoções a nível estético.

E, estes dois autores, Sophia de Mello Breyner e Manuel Alegre, fazem-no de forma diferente. Enquanto Sophia de Mello parte de vivências, de emoções, de sentimentos que em cada texto estão presentes os elementos marcantes como o sol, o vento, a luz. Sophia apresenta uma paixão pela Natureza, como pela poesia, a Natureza é maravilhosa aos olhos dela, e em cada texto realça a sua importância. Começou a escrever antes de a saber fazer, isto marca o grande objectivo que a poesia tinha para ela. Pede aos Deuses não para os homens seres como eles, mas para serem mais divinos e se aproximarem do bem como do mal. Cada palavra é mágica, e ela sabe agrupá-las, juntá-las, ela diz que não faz os poemas mas eles fazem-se por si, é algo inspirador que vagueia para além da noite fora. Diz que as cidades são conflituosas, lugares de desencontros. A Natureza cativou-a, e ela tenciona mostrar isso ao mundo. Manuel Alegre escreve conforme as emoções, dizem que ele era o hino da liberdade. Cada palavra cativava as pessoas, mas, no entanto, uma palavra era um sinal de esperança, de luta para aqueles que passavam e viviam antes do 25 de Abril, foi preso pela PIDE, o que mostra revolta nos seus textos, ele tenta expressar-se face à opressão, face à angústia que sentiu! A Poesia, para Manuel Alegre, é uma forma de medição, é um ritmo que só ele entende, para Sophia basta estar quieta e calada que a poesia ouve-se.


Mas um poema não é só a parte da emoção, um poema tem de ser apreciado pela forma como é escrito, e bem como pela sua estrutura. Estrutura interna e estrutura externa. A forma como o poema está disposto também transmite alguma coisa. Sophia por vezes não recorre à pontuação para sentir que não está limitada, não está presa, assim como Manuel por vezes abdica de minúsculas. O poema inteiro, fala por si, a maneira como está disposto, e é escrito também diz muito acerca dele. A poesia também diz muito em relação ao tempo em que foi escrito. Neste caso, os dois têm sentimento de opressão e de revolta quando se fala na época anterior ao 25 de Abril! São duas maneiras distintas de fazer poesia e de a sentir.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Possessão; Violência. Remorso de Baltazar.

O remorso de baltazar serapião.


A força, a violência da escrita, a desordem emocional, o desmascarar das memórias da Idade Média, assalta-nos constantemente e violentamente a mente.

A ausência de maiúsculas, a utilização do discurso indirecto livre, o uso na perfeição da imagem, o uso de metáforas bem como hipérbato, tornam a escrita do Valter Hugo mãe diferente, mas nada é feito ao acaso, tudo tem o seu objectivo. Parece que nada neste livro foi deixado à sorte, os nomes foram escolhidos com um rigor excepcional. Baltazar era o chefe de família, o governador. Brunilde está relacionado com as belas raparigas montadas a cavalo em busca do seu guerreiro. Dom Afonso e Dona Catarina não têm significado próprio mas sabemos que foram grandes pessoas na nossa cultura. Cada nome tem por trás as vivências e o papel de cada personagem.

A ausência de maiúsculas, é o sinal de que a escrita corre por si, a leitura quer-se simples e corrente. O uso do discurso indirecto livre leva-nos a termos diferentes formas de interpretação.
O autor usa uma linguagem inovadora e com o sentido profundo da alma do povo. O enredo da história situa-se na Idade Média, um tempo de pobreza, um tempo em que as desigualdades sociais se fazem ressentir. Retrata uma idade média fortíssima mas miserável. Intriga. Fortíssima pelo facto da luta pela imposição do Homem.

Conhecemos Baltazar Serapião, o protagonista deste ''romance'', e a Ermesinda. Habitam um espaço e percorrem um tempo em que a vaca, a sarga, consegue ter os mesmos direitos e deveres que a mulher. São julgados filhos do sarga, filhos de Deus, enfim, filhos da loucura.
Ao longo do livro cruzamos-nos com senhores feudais, observamos ambientes hostis, de luta contínuas pela sobrevivência, captamos imagens de violências asquerosas, da percepção da violência doméstica naquele tempo, tirando-lhe o poder divino de ser mulher. Assistimos a casamentos feitos e desfeitos, a ódios e amores, remorsos e rancores.
A mulher recebe no corpo e na alma a consequência da violência. O senhor é dono da vida assim como a mulher é propriedade do Homem. A violência sobre a mulher advém da força duma revoltante miséria onde a ignorância do tempo é sobreposta a estratos sociais. A mulher acaba por ser a grande vítima.

Um livro revoltante, revolucionário, bruto. REAL. Revira os sentidos ao contrário. Foge ao normal, ao típico, foge a fase de enquadramento actual.
Não não é um livro da idade média, não não é um romance, não não é uma bela história, mas sim é um livro que desmascara os monstros actuais!

O facto de matar a mulher é algo divino, é algo que se rotula por orgulho. Onde uma vaca pode ser sagrada e amada, enquanto uma mulher é desprezada e desfalecida.

Foi um livro que me fez viajar à Idade Média. Um livro real que revirou os meus sentidos e cada vez que ia avançando na história ia-me ligando cada vez mais a ele.

Este ''Tsunami'' ganhou o prémio José Saramago em 2007.


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