sábado, 29 de maio de 2010

Soror Violante do Céu

Filha de Manoel da Silveira Montesino e de Helena da França de Ávila, nasceu em Lisboa a de Maio de 1602. Conhecida por ser uma freira dominicana que na sua vida secular se chamava Violante Montesino. A 29 de Agosto de 1630 entrou para a ordem dominicana onde permaneceu no convento de Nossa Senhora da Rosa (convento das monjas da Ordem dos Pregadores), Lisboa.
Foi uma das poetisas mais consideradas do seu tempo, sendo hoje conhecida por vários meios culturais da época como a Décima Musa e Fénix dos Engenhos Lusitanos. Aos 17 anos deu-se a conhecer por ter composto uma comédia para ser representada durante a visita de Filipe II a Lisboa.
Soror Violante do Céu ficou famosa no seu tempo por escrever poemas, peças de oratória e comédias. Algumas das duas obras mais conhecidas são as Rimas Várias (1646), Romance a Cristo Crucificado (1659), Solilóquios para Antes e Depois da Comunhão (1668), Meditações da Missa e Preparações Afectuosas de Uma Alma Devota (1689) e Párnaso Lusitano de Divinos e Humanos Versos (1733).

Escreveu em português e em castelhano, e a sua escrita revela destreza nos jogos poéticos conceptuais e forte sentido melódico, característicos da literatura barroca na qual esta poetisa viveu. Faleceu, a 28 de Janeiro de 1693 no convento.



A UMA AUSÊNCIA

Vida que não acaba de acabar-se,
Chegando já de vós a despedir-se,
Ou deixa, por sentida, de sentir-se,
Ou pode de imortal acreditar-se.

Vida que já não chega a terminar-se,
Pois chega já de vós a dividir-se,
Ou procura, vivendo, consumir-se,
Ou pretende, matando, eternizar-se.

O certo é, Senhor, que não fenece,
Antes no que padece se reporta,
Por que não se limite o que padece.

Mas viver entre lágrimas, que importa
Se vida que entre ausência permanece
É só viva ao pesar, ao gosto morta?
Soror Violante do Céu.

Não vou por aí !


''Cântico Negro'', poema de José Régio, contido em ''Poemas de Deus e do Diabo''.
Este autor aborda a problemática do indivíduo que anseia por sua afirmação impôr-se, a partir duma contestação de uma norma e de um afastamento da vivência colectiva.

O texto desenvolve-se assim partindo de uma contestação da norma colectiva, da necessidade de autonomia, de liberdade bem como de independência. O posicionamento do ''eu'' (no ínico de algumas estrofes), leva à afirmação da sua individualidade perante o mundo que o rodeia!

Ao longo do texto, José Régio estabelece comparações entre elementos opostos, formando-se assim um texto em torno da individualidade e da colectividade.

Um título diz-nos muito...
''Cântico'', cântico tranparece-nos uma ideia de homenagem, de algo divino, enquanto ''negro'' nos lembra a escuridão, algo sombrio.
Assim ''Cântico negro'' diz respeito à revolta de algo, diz respeito negação de valores vigentes.

José Régio na minha opinião, pretende transmitir-nos que a sua atitude contrária aos outros, em essência consiste apenas em não ser como os outros.

''Prefiro escorregar nos becos lamacentos'' (v.18); ''Como farrapos, arrastar os pés sangrentos'' (v.20), prefere ter consciência das enormes dificuldades, graças à singularidade da sua opção, da sua experiência, em que não lhe permite apoiar-se em vivências alheias. Prefere o viril enfrentamento da sua opção. Toma assim consciência da virtualidade de dificuldades, graças à autonomia da sua escolha. O verso 18 repõe-nos para riscos e quedas, para profundidades. O verso 20, remete-nos para o desgaste de aspectos negativos. Assim, estes versos estão não só ligados a uma interioridade como também podem ser associados a resultados negativos de obediência aos instintos.

''Não, não vou por aí! Só vou por onde me levam meus próprios passos...'' (v. 14-15). Não acompanha ninguém, ele só vai onde os passos o levarem, ele traçou o seu próprio caminho e tenciona segui-lo sem ninguém. Cria assim uma ideia de idepêndencia e revolta.

Utiliza a antítese quando se refere a Deus e ao Diabo. '' Deus e o Diabo é que me guiam, mais ninguém.'' (v.40). Realça forças indestrutíveis e absolutas, ligando o Bem e o Mal.

Ao longo do texto, foi visível o ''eu'' marcante, foi perceptível a separação que o autor criou entre o ''eu'' e os ''outros''. Apesar disso, José Régio acaba por dizer ''É uma onda que se alevantou. É um átomo a mais que se animou...'' (v.48-49). Acaba por ver a definição de vida como uma onda, um átomo , pretende assim dar a entender o sentido de unidade, união, de um todo. Desta forma, deixa-se trair na sua definição de indivíduo que faz ao longo de todo o texto, pois termina por admitir-se parte de um todo, colectividade.

É um texto rico em vivências e sentimentos. Gostei bastante do analisar e preceber melhor o que José Régio pretende transmitir.