segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Vou caminhando desde 25 de Julho de 1994



O meu caminho começou dia 25 de Julho de 1994 em Lausanne, mais precisamente às oito e dez da manhã. Era aquela rapariga inocente que gritava e chorava. Uma criança pequenina, apenas com quarenta e nove centímetros, e com 3 quilos e 520 gramas. Muito sorridente, ganhei um cabelo liso, castanho . Tudo nesse tempo era belo e bonito. Tudo era colorido, tudo o que me rodeava era fantástico: os animais, as flores, as pessoas, o ar puro, a água e o sol suave. Nessa altura, não ligava muito ao meu irmão que já tinha os seus três anos de idade. Eu era o centro das atenções, e isso pelos vistos bastava-me. Os olhares estavam constantemente concentrados em mim. Tinha os meus peluches gigantes, as minhas barbies carecas e o que nunca podia faltar: uma folha branca e umas canetas.


Tinha uma cumplicidade enorme com o meu pai, e essa foi crescendo e ainda está a crescer. Foi um despertar de sensações maravilhosas, ia caminhando, para conhecer melhor o mundo para onde vim parar, onde já adultos viviam há mais tempo. Nada me tirava a minha tão grande alegria de viver, a minha felicidade contagiante, o meu sorriso constante. Comecei a falar, e aí criei uma alegria tremenda naqueles que me rodeavam. Fui dando os primeiros passos, fui largando a chupeta, fui começando a andar, fui crescendo. Habituando-me aos outros e os outros a mim. Lembro-me perfeitamente da minha infância. Tinha cinco anos quando entrei para a primária. Não queria largar a minha mãe, agarrava-me a ela e chorava. Mas fui-me habituando à ausência dela quando frequentava a escolinha. Era organizada e muito traquina, perfeccionista, sorridente, alegre. Muito sonhadora. Quem não sonha na sua infância ? Sonhava ser tudo e mais alguma coisa. Criava um mundo à minha maneira. Lembro-me de querer ser cabeleireira, depois enfermeira, depois polícia, depois médica, depois cozinheira e tantos depois assim se sucederam.
Adorava comer as papas que a minha mãe me fazia, de bolachas banana e sumo de laranja.
Recordo-me de pegar em simples folhas brancas e desenhar até me fartar, escrever poemas que depois colocava debaixo da almofada da minha mãe, recordo-me de desfilar para a minha família, de fazer espectáculos de dança, recordo-me de como era uma criança feliz.


Quando aconteceu a tragédia do 11 de Setembro só me recordo de ir a correr buscar uma folha branca e aí comecei a desenhar parece que tudo à minha volta não interessava, estava de novo a criar um mundo numa banal folha. É o pouco que me recordo dessa data. Nesta altura o meu irmão ainda não fazia parte das minhas brincadeiras. Passei grande parte da minha infância com a minha prima Joana, ela era e é um grande exemplo. Brincávamos às mães, às professoras, às enfermeiras, era uma verdadeira companheira. Ainda hoje não tenho palavra que a defina, não é melhor amiga pois tem mais valor que isso, tratamo-nos sempre por Irmãs. A cumplicidade que temos, os sorrisos que trocamos, as brincadeiras, as birras, as zangas, os olhares, as trocas de roupa e barbies, foi isto que reforçou a nossa ligação e ainda hoje é assim. De mãos dadas e caras erguidas enfrentamos JUNTAS os obstáculos da vida. Lembro-me que foi por iniciativa própria que larguei a chupeta cortando-a toda. Lembro-me do meu percurso com os seus altos e baixos, até hoje.
















Era muito agarrada à minha mãe, e tinha uma enorme cumplicidade com o meu pai, o meu irmão foi tendo cada vez mais importância na minha vida.
Não nomeio os meus avós ao longo da minha infância pois estavam longe mas estes sempre foram importantes e têm um grande valor.
Foi dia 19 de Julho de 2005 que marcou em grande parte a minha vida, quando os meus pais me disseram que íamos deixar a Suíça e partir para Portugal, e aí tudo parou, já não encontrava a minha alegria nem o meu sorriso, o que era belo e bonito tinha desaparecido. Sendo assim parti. Deixei colegas, escola, grande parte da infância, sorrisos, alegrias, tudo num país. Lembro-me de me terem feito uma festa surpresa com todos os meus colegas, deram-me um monte de cartas, pulseiras, peluches, recordações tudo para me relembrar daquilo que vivi. Recordações. Lembranças. Vim então com onze anos para Portugal, e não esperava encontrar o bonito e belo que tinha desaparecido. Entrei para o sexto ano, fui muito bem acolhida, faziam sempre aquelas meras perguntas se gostava de estar cá, o porquê de ter partido e tantas mais. As minhas respostas eram sempre as mesmas, até uma certa altura que foram mudando. Encontrei novas pessoas, novas personalidades, novos hábitos, novos costumes, encontrei uma nova vida. Fui assim percorrendo os anos uns atrás dos outros sempre empenhada e orgulhosa do meu caminho. Fui lutando. Fui ganhando verdadeira personalidade, novos objectivos, novos percursos de vida tudo de novo. Aí sim, o meu irmão já entrava em tudo, tal como hoje e quero fazer com que ele permaneça na minha vida. Ele a minha mãe e o meu pai, são verdadeiros orgulhos. Aqui estou eu hoje, mais crescida, mais decidida, com outra visão do que é a vida. Personalidade forte, vou crescendo deixando alguns sonhos para trás e acrescentando outros. Vou-me tornando mulher a cada dia que passa, aproximando-me daquela mulher que um dia desenhei numa simples folha de papel. Vou crescendo aproximando-me daquilo que realmente quero ser. Orgulho-me de tudo. Hoje a minha folha branca está repleta de cores, vivência, emoções e de verdadeiros sentimentos.



O meu texto vai-se completando com o passar dos dias...